A Acupunctura é um dos ramos mais importantes da Medicina Tradicional Chinesa. Trata-se de uma técnica medicinal que consiste na colocação de agulhas muito finas em pontos específicos do corpo com o fim de melhorar o estado de saúde. Como este método de tratamento complementar é ainda pouco conhecido e, talvez por isso, pouco utilizado, a equipa do Projecto Escola Saudável (PES) decidiu contribuir para a divulgação desta disciplina. Assim, entrevistámos o Dr. Luís Monteiro (LM), licenciado em medicina, mas também praticante/especialista em acupunctura.
PES: De que maneira reage a medicina “tradicional” à prática de uma medicina dita alternativa, como a acupunctura?
LM: A Acupunctura é, hoje em dia, reconhecida pela comunidade científica Médica como uma técnica complementar terapêutica abrangida pela Medicina Física.
Não devemos, por isso, englobá-la nas chamadas medicinas alternativas. Ao ser reconhecida pela comunidade médica, é seguramente uma técnica com fundamentos científicos actuais reconhecidos, como o prova o reconhecimento da Competência em Acupunctura dada pela Ordem dos Médicos aos filiados que a praticam dentro das regras estabelecidas.
PES: As agulhas podem transmitir doenças?
LM: Devem ser seguidas as normas de segurança no uso de agulhas, nomeadamente o uso exclusivo de agulhas esterilizadas e a usar apenas uma vez. Por outro lado, não se devem inserir agulhas em zonas da pele que não estejam previamente limpas e sem sinais seguros de que não têm alterações. Claro que qualquer pessoa que pratique acupunctura, deverá ter um conhecimento exacto da anatomia para saber exactamente onde está a “picar” e o que está a “picar”.
Um praticante de acupunctura, deverá ter no gesto nobre da punção, o princípio de “sentir” na agulha que insere o percurso que a mesma está a seguir, sabendo interpretar as sensações transmitidas na abordagem das estruturas que vai puncionando à medida que vai sendo inserida. Se todos estes princípios forem sistematicamente seguidos, será muito pouco provável haver transmissão de doença pelas agulhas de acupunctura.
Finalmente, não podemos esquecer que as agulhas usadas numa sessão de acupunctura, depois de serem retiradas do doente, devem ser recolhidas e imediatamente colocadas em recipiente próprio para ser enviadas a empresa de recolha de lixo hospitalar, onde serão incineradas. Sem este cuidado podemos estar a enviar para o lixo comum “armas mortíferas” de contaminação do meio ambiente com doenças perigosas.
PES: Quais as patologias tratáveis?
LM: A acupunctura, juntamente com a massagem e a fitoterapia (medicação feita de produtos animais e vegetais), são os três pilares da Medicina Tradicional Chinesa, que tratou durante muitos séculos todo o tipo de doenças no mundo Oriental. No Ocidente apenas em fins do século XIX, princípios do século XX, se começou a conhecer esta Medicina, que tem conceitos de “doença” muito diferentes dos Ocidentais.
Com a evolução da Medicina que deixou de ter uma abordagem esotérico/filosófica e passou a basear-se na ciência experimental, não passou despercebida a eficácia da acupunctura no tratamento de algumas “doenças” conseguindo não só “competir”, mas mostrar-se tão ou mais eficaz que os tratamentos habituais usados no Ocidente.
Hoje, a acupunctura é reconhecida por toda a comunidade Médica Ocidental como uma técnica terapêutica complementar que, com o uso de agulhas inseridas em vários pontos do corpo, modula o sistema nervoso de modo a regulariza-lo de desvios que alteram o funcionamento do organismo.
Diria que as “doenças” que provocam dores como as afecções músculo-esqueléticas (artrites, artroses, tendinites, etc.) ou dores mais específicas como a enxaqueca, ou mesmo na dor neuropática (como a Ciatalgia) são situações para ser tratadas com sucesso pela acupunctura.
Outro tipo de alterações que têm a ver com o sistema nervoso autónomo em que o equilíbrio entre o Sistema Nervoso Simpático e Parassimpático está alterado como por exemplo perturbações dos aparelhos digestivo, geniturinário, ginecológico, urológico, respiratório, oto-rino-laringológico e imunológico.
PES: Quanto tempo pode durar, em média, um tratamento de acupunctura?
LM: O tempo de duração de um tratamento, difere com o tipo e a intensidade do problema a tratar, mas, na maioria dos casos, varia entre quatro e seis sessões com ritmo de uma sessão semanal.
Cada sessão varia entre trinta a sessenta minutos.
PES: Quanto custa, em média, uma sessão de acupunctura?
LM: Varia entre 50 e 75 Euros por sessão.
PES: Em que campos (tabagismo, lesões musculares, etc.) tem obtido melhores resultados com a acupunctura?
LM: Como tenho uma especialização em Acupunctura Médica Contemporânea na área do aparelho músculo-esquelético, não estranhará que os meus melhores resultados sejam obtidos nessas afecções.
Na desabituação tabágica tenho tido alguns êxitos, mas devo confessar que também alguns insucessos.
PES: De que forma é que os jovens interessados poderão aprender técnicas de acupunctura em Portugal?
LM: Tirando um Curso na Área Técnica da Saúde (Medicina, Enfermagem, Fisiatria, etc.) onde possam adquirir os conhecimentos básicos de anatomia, fisiologia, terapêutica, etc. E fazendo depois um Curso Post Graduação em Acupunctura Contemporânea.
PES: Como é que é possível diferenciar um verdadeiro especialista de alguém que seja um "simples curioso" desta medicina alternativa?
LM: Infelizmente em Portugal esta matéria não está regulamentada, o que nos deixa preocupados. Sobretudo quando ouvimos frequentemente responsáveis políticos afirmar que estão preocupados com a Saúde dos Portugueses.
Dir-lhe-ei que se necessitar de tratamento de acupunctura saberei escolher um Acupunctor que seja licenciado na área da saúde, que tenha já alguma experiência demonstrada e que não me deixe dúvidas que utiliza as recomendações do uso de material, estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde.
PES: Quantos pacientes recorrem, em média, à sua consulta por mês?
LM: Os números variam muito. Há alturas de grande afluência (como na passagem do inverno para a primavera e do verão para o Outono) e alturas em que aparece muito pouca gente. Não tenho números exactos para lhe dar, mas em média não andarei longe de cinquenta a sessenta tratamentos por mês.
PES: Quem é que não deve nunca sujeitar-se a sessões de acupunctura? Existem idades limite (mínima e máxima)?
LM: Não existem contra indicações. Qualquer indivíduo de qualquer idade pode ser tratado com esta técnica. Há, no entanto, cuidados a ter em conta, como por exemplo o uso de Acupunctura Eléctrica em indivíduos portadores de Pacemaker Cardíaco, analise prévia a quem está a ser tratado com anticoagulantes, fazer profilaxia de Endocardite a indivíduos susceptíveis, avaliar indivíduos Epilépticos e doentes Mentais graves antes de decidir tratamento, etc.
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